quinta-feira, 10 de agosto de 2017

SOMOS FILÓSOFOS, P#&&@!!!

Quando alguém que "não é da área" troca uma ideia comigo, me chama de "filósofo" - claro: estudei, tirei diplominha, ainda estudo e trampo com isso (Filosofia). Logo, adivinha qual a minha "profissão"?! Pois é... Curiosamente dentro das paredes acadêmicas a gente sempre ouve a pergunta: "E você acha o quê? Que vai ser filósofo? Não, né?!" - a vontade de responder é: "Não, vim fazer filosofia para ser arquiteto, mesmo".
Mas entendo. Não podemos ser tão "arrogantes assim" e imaginar que seríamos capazes de produzir obras tipo-Kant, tipo-Hegel, tipo-Descartes, tipo-Platão... Com certeza estes, quando escreviam, estavam pensando "Quero ser um mega-blaster-intelectual que vai entrar pro cânone", e não "Quero produzir conteúdo que dê conta dos problemas que enfrentamos aqui na nossa terra, dia-a-dia, etc." #sqn
Com certeza os seus colegas de universidade (ou academia, ou sei lá) quando os encontravam nos corredores abaixavam as cabeças e pensavam "Jamais seremos como estes semi-deuses", e desistiam de seus trabalhos. Com certeza os arquitetos quando se dão conta de que não terão o financiamento que um Niemeyer teve ou que não construirão uma Capela Cistina ou uma pirâmide Asteca desistem de sua formação, de solucionar problemas nas casas das pessoas que conhecem, que os contratam, de desenvolver projetos acessíveis para pessoas com deficiência ou para o melhor proveito da experiência humana em uma instalação. "Jamais seremos como aqueles selecionados ali. Vamos só passar um tempo e morrer de vergonha e tédio vira-lata em nossas miseráveis incapacidades inatas"...
A capacidade de ser ativo e transformador na comunidade em que se está inserido, nas relações próximas, na solução de problemas concretos e presentes, vivos, sensíveis, aqui em casa, do meu lado, na minha terra, é "menosprezada" - porque filosofia só é filosofia entrando num sistema canônico de clássicos e suas revisões. Do contrário, é... Sei lá o que!
Eu fico de boa pensando que "sou filósofo da Vila Isa" ou "filósofo na minha comunidade", "na minha família", enfrentando os problemas em diversos níveis, lugares e momentos. Professor vez por outra, filósofo como professor ou professor como filósofo. Canônico?! Duvido que quem produziu "A Filosofia" que estudamos ficou pensando em entrar pra História Universal Imutável do Progresso e Desenvolvimento Único, Unívoco e Unidirecional Humano. Estavam é solucionando seus problemas, desenvolvendo sistemas a partir dos enfrentamentos necessários ali, próximo.
Bem, mas se não for pra "entrar no cânone", não é filosofia, é só "comentador". Não pretendo entrar pros seletos, pelo jeito "você", sim. Quem que é o humildão e o arrogante nessa relação com o "ser filósofo"?

Bruno Reikdal Lima