Sócrates (470 – 399 a. C.), nosso
querido filósofo grego, que discorria sobre vários assuntos sempre com uma
perspectiva humanista, entrou uma vez no ateliê do pintor Parrásio e o
questionou sobre a representação da pintura. Com essa atitude, ao se interessar
pela essência da pintura, transportou o questionamento filosófico para o campo
das artes. Seu discípulo Platão (427 – 347 a. C.) no diálogo A república estabeleceu um confronto
entre arte e realidade: levando em conta o caráter representativo da pintura e
da escultura — cópias das cópias imperfeitas de uma realidade essencial e
imutável[1] — colocou
a arte abaixo da verdadeira Beleza, rotulando-as como supérfluas. Por outro
lado, observava que a poesia e a música exercem influência muito grande sobre
nossos estados de ânimo. Com isso, Platão conseguiu transformar em problema
filosófico a existência e a finalidade das artes, comparando sua essência à
própria realidade, problematizando a relação entre elas e a Beleza e os efeitos
morais e psicológicos da música e da poesia. A simples fruição da pintura, da escultura
e da poesia também passa a constituir objeto de investigação filosófica: é o
pensamento racional que interpela sobre seu valor, sua razão de ser e o seu
lugar na existência humana. Desde então, vários filósofos se ocuparam do
pensar, entender e falar sobre as artes, dando origem — e isto é só um palpite —
a uma área da Filosofia que só viria a ser batizada muitos anos depois: a Estética!
Este termo, que designa a ciência da arte e do belo, veio a público por volta
de 1750 (séc. XVIII) por meio da obra Aesthetica,
do filósofo alemão Alexander Baumgarten[2]. Hoje
podemos arriscar uma definição e dizer que a arte é um produto da atividade
humana que, obedecendo alguns princípios, tem por finalidade produzir
artificialmente os múltiplos aspectos de uma só beleza universal.
Mas... Será
mesmo? O que é o Belo? O que é o Belo para você? O que é a Arte?
Encontraremos ao longo da
história inúmeros conceitos quanto ao tema aqui exposto, mas não queremos nos deter
a isso. O primeiro parágrafo é apenas um grão nesse vasto oceano que, em nossa humilde
opinião, merece um estudo mais aprofundado.
Lembro-me de uma intervenção
artística realizada pelo artista Eduardo Srur[3], que
consistia em espalhar garrafas pets gigantes pelas margens do rio Tietê. No
momento em que vi tudo aquilo achei de um extremo mau gosto. Para meu espanto, aquela
imagem não saiu da minha mente. Aos poucos, percebi a grandiosidade da mensagem
que o artista queria passar, mensagem que teve significado e efeitos apenas
sobre minha mente. Eis aqui a fruição causada pela arte. Esse tipo de
intervenção sempre é um risco para o artista, mas qual artista não gosta de
correr riscos? Ao andar pela cidade esbarramos a todo tempo com inúmeras obras
de arte, e na maioria das vezes não percebemos sequer sua existência. Com isso,
perdemos a oportunidade de questionar nossa relação com o mundo e com novas
perspectivas. Considerando a necessidade de promover o pensamento crítico e o
novo olhar para o mundo, nós do “O Saber Inútil” temos o prazer — diria um
imenso prazer — de inaugurar a seção “Sinestesia”, que existirá para promover o
contato com a Arte, oferecendo aos artistas do cotidiano um espaço para expô-las
e a todos nós a oportunidade de apreciá-las e discutir sobre suas mensagens e
propósitos.
Entre, puxe a cadeira e deixe a
fruição tomar conta de você! Caso seja um artista e queira publicar aqui sua
arte entre em contato conosco: será um prazer divulgar sua arte e promover mais
reflexões dentro desta fascinante área da Filosofia!
[1] Na época de Platão acreditava-se que as estrelas e demais
astros possuiam lugares fixos no céu, e que sua imutabilidade era sinal de
perfeição. Deste modo, a mobilidade e constante transformação das coisas aqui
na Terra representavam a imperfeição. A partir disso, Platão desenvolveu a
chamada "Teoria das Ideias", segundo a qual haveria, em uma realidade
suprasensível, modelos perfeitos e imutáveis de tudo o que há na Terra. Se você
e eu e tudo o que nos rodeia são apenas cópias de uma perfeição etérea, a arte
(pintura, escultura) nada mais seria do que uma cópia das cópias imperfeitas
dessa perfeição.
[2] Cf.
definição do termo “Estética” em ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. 5 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007, p.
426.
[3] Para
conhecer um pouco mais do artista e de suas obras, confira: http://www.eduardosrur.com.br/.