Cansamos de comentar. Nosso problema não é Hegel, Marx, Descartes ou Rousseau: nosso problema é a realidade diária de trabalhadores e trabalhadoras, cidadãs e cidadãos, viventes, sujeitos, pessoas, comunidades e indivíduos que aqui na Terra Brasilis sofrem, riem, comem, bebem, choram, enfrentam sistemas, suportam problemas, precisam de alívio, refletem sobre seus dias, suas casas, seus bairros, igrejas, práticas esportivas, escolas, questões.
Não se faz filosofia para o avaliador. Não se faz filosofia pedindo benção pro santo do passado ou pro abade acadêmico que defende o dogma. Filosofia se faz para pessoas, para gente, no meio e como atuação na vida, na política, na estética, na ética, na poética, na prática, etc., da realidade da nossa terra, nos nossos dias. A filosofia serve às pessoas, não são as pessoas que devem servir à filosofia.
Se lemos Hegel, Marx, Descartes ou Rousseau, o fazemos não pra comentar, mas por que suas obras são possíveis ferramentas na nossa mão, instrumentos que podem ser úteis na hora de enfrentar os dias, de lutar por e com alguém, de intervir e auxiliar na solução de problemas.
Ei! Nosso tema não é "fenomenologia", "epistemologia" ou "teoria do conhecimento"; nosso tema não é "política" ou "estética"; nosso tema não é "idealismo", "subjetivismo", "realismo", "aristotelismo" ou sei lá mais qual "ismo" de uma história da filosofia e uma filosofia da história viciadas. Nosso tema é nossa gente: nossas religiões, nossas músicas, nossos gêneros, nossas práticas sexuais, nossas mobilizações, nossas inércias, as reformas políticas, nossas condições de trabalho, nossos sistemas produtivos, nossas comunidades, nossas leis, nossa pobreza, a concentração e distribuição de nossa riqueza...
Cansamos de comentar. Hora de fazer a filosofia filosofar! Hora de tirar os cabrestos das próximas gerações de filósofas e filósofos, de derrubar os saberes-poder, as estruturas de dominação da criatividade, o preço do conhecimento. Tempo de tirar das mãos dos senhores a pena para dá-las aos que seriam condenados. A filosofia não voa atrasada; é que só permitem que as corujas de minerva voem, que os papagaios andem pela casa grande, enquanto as demais aves ficam engaioladas.
De bons comentaristas o inferno já tá cheio. O que falta é filosofia comprometida em lutar para que esse lugar de perdição não exista mais...
Bruno Reikdal Lima