quarta-feira, 18 de julho de 2018

Uma folha em branco


É curioso notar a potência - a tamanha potência - de um objeto tão simples e tão presente em nosso cotidiano: uma folha em branco. Em outros contextos ela teria virado arte (avião, origami, bola de papel, pintura), rascunho (de desenho, de música, de carta, de texto, de vida). No entanto, agora ela me interpela, me coloca contra a parede: "Cá estou diante de você. E agora, o que você vai fazer?". Estou mudo. Não sei o que dizer. Pensei em escrever sobre alguma corrente filosófica, sobre os grandes temas da educação. Até arrisquei um ensaio sobre a potência de objetos simples enquanto forças mobilizadoras do pensamento. E então? Nada. Talvez a liberdade de escolhas de temas diante de uma folha limpa e não utilizada seja a mais perfeita alegoria da vida. Um perfeito paradoxo: a liberdade que aprisiona. Que não me permite fugir de mim. Que me obriga a dizer quem sou. Que me permite me tornar o que sou. Isso me faz recordar Sartre, Nietzsche... Filosofia. Infelizmente já não há mais tempo. A folha já não está em branco.