sábado, 16 de dezembro de 2017

Entre a leitura dos clássicos e o filosofar: dos prazeres da boa vida


Assim como o nome próprio deve soar, a cada indivíduo, como uma lei particular - como seu próprio destino - o título dado a um texto não deve ter uma função muito diferente disto. Atrevo-me aqui a tratar de um assunto que, à primeira vista, pode parecer como um desafio sem precedentes: convencer os jovens do valor de uma boa leitura e sua “filosofada” subsequente. Se a propaganda é a alma do negócio, não sem razão me propus a qualificar essas duas atividades como os “prazeres da boa vida”.
Se vamos falar de leitura de obras clásicas, e se vamos falar de Filosofia, quero recordar e lhes contar de que maneira descobri tais tesouros. Comecei a ler quando era muito novo. E quando vi, já estava a escrever também. Amo poesia. Lembro que mal compreendia o que Manoel Bandeira queria dizer com muitas de suas poesias, mas aquilo me fascinava. Penso que já nascia em mim, ali, a compreensão de “obra clássica” que carrego comigo até hoje: aquela obra que, apesar do tempo histórico e das circunstâncias em que foram escritas, sempre têm algo a nos dizer. E talvez por isso eu caminhava por aí com o “Estrela da vida inteira” embaixo do braço. 
Já no início de minha vida adulta vim conhecer a Filosofia: foi quando resolvi ingressar na faculdade mesmo sem saber ao certo o que ela era e para quê servia. E diante das múltiplas definições e interpretações que aprendi ao longo do curso e desses anos como professor da disciplina, digo sem nenhum pudor que ainda hoje não sei ao certo do que se trata. E isso é maravilhoso! Depois que conheci a Filosofia, nunca mais fui o mesmo. Nunca mais vi as coisas da mesma maneira. Em síntese, eu diria que abri mão de poucas certezas para abraçar a multiplicidade de possibilidades. Aprendi que nem sempre a resposta é tão importante quanto a gente imagina: às vezes só é preciso saber fazer boas perguntas. 
Não chegamos ao final da conversa - e penso mesmo que essa conversa nunca deva terminar - mas já podemos extrair algumas conclusões simples dessas duas historinhas que, embora pareçam pertencer à Carochinha, dizem muito do que sou hoje. E é ao desfrute do que venho chamando de “prazeres da boa vida” a que devo muito do que sou hoje. O prazer da leitura de uma obra clássica - que pode ser tanto um clássico “canônico”, quanto um clásico que seja só seu, não tem problema! - possibilita muito mais do que uma simples distração; possibilita muito mais do que um simples desbravar de um mundo novo; possibilita muito mais do que o simples exercício da imaginação. A leitura de um clássico nos possibilita o exercício do filosofar; nos possibilita o encontro com a multiplicidade; nos possibilita o encontro e o reencontro com as grandes e insolúveis questões que são, a um tempo, nossas, do autor e da humanidade. Em síntese, a leitura de um clássico viabiliza nossa própria trasncendência: um verdadeiro privilégio. E é incrível e maravilhoso que tais nobres prazeres estejam extremamente à disposição de quem quer que seja. 
E então? Uma pontinha de curiosidade? Quer ver o mundo de uma maneira totalmente diferente? Afim de saber de que maneira se realiza este exercício de transcendência? Leia!