segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

As noites perfeitas

As noites perfeitas começam devagar e só acabam no começar de um novo dia. 
São nelas que se adormece de cansaço, mas de músculos relaxados. Leve, o corpo flutua... 
Noites perfeitas são doloridas, ferem corpos, ferem almas... São feridas desejadas, só quem tem pode entender... 
Noites perfeitas são famintas, canibais, surrealistas... Nelas morde-se, aranha-se e come-se... o outro e até mesmo você. 
São de sede insaciável, não há líquido que baste... O que exala é o que se insere... Nenhum deles permanece... Apenas o do outro em você... 
São de frio e de calor intenso... E sem previsão de tempo... O calor te arrepia, e o frio faz arder... 
Nas noites perfeitas são despidos corpo e alma, tiram roupas, tiram máscaras... 
São repletas de palavras, das mais lindas às vulgares, que se quer ou não ouvir... 
As noites perfeitas são metáforas, sinestésicas e paradoxais: 
O que é é outra coisa... 
Os sentidos se misturam, se completam, se anulam... 
Os gemidos são olhares, os olhares são palpáveis, os toques são gritos e os gritos têm cheiros... Cheiros que só sentem os que se tocam... 
Noites perfeitas são e jamais poderão ser tudo que se precisa ter. 

Vanuza Alves